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Intervenção de Francisco Queirós, vereador da CDU na reunião da câmara municipal de Coimbra

 

Propõe a maioria do executivo uma Reestruturação Orgânica da Câmara.

Neste quadro é proposta a internalização dos SMTUC, ou seja, a transformação dos serviços municipalizados de transportes urbanos de passageiros num serviço municipal, passando a integrar um Departamento de mobilidade, trânsito e transportes.

É uma alteração de grande magnitude com interferência, não só na organização interna dos SMTUC, mas também com impacto transversal a toda a orgânica municipal.

Esta proposta não pode ser decidida sem um debate vasto entre todos os interessados (sim! os partidos políticos com representação municipal e os trabalhadores envolvidos) e muito menos lançada publicamente a poucos dias da data proposta para a decisão, sem que ninguém tivesse sido ouvido. Recordamos que a actual maioria, em mandatos anteriores, criticou sistematicamente, e bem, a ausência de diálogo com a oposição e a forma apressada como eram colocados processos importantes para a cidade sem tempo bastante de análise, discussão e ponderação. Ora, é exactamente isso que agora faz.

Para a CDU, desde sempre, o serviço público e municipal de transporte urbano de passageiros é fulcral para o concelho, desempenhando um papel social essencial e constituindo ainda factor de desenvolvimento económico e de sustentabilidade.

Conhecem-se processos semelhantes, que mais não foram que um passo para a privatização, com claro prejuízo para os trabalhadores e utentes, que degradaram serviços, com suprimento de linhas e horários e aumentaram os custos de utilização.

Por isso, a CDU sempre se bateu na defesa deste serviço, opondo-se a toda e qualquer tentativa de o desmembrar e privatizar, bem como à sua transformação em Empresa Municipal.

Quaisquer alterações para os SMTUC devem ser realizadas à luz dos princípios e objectivos que a CDU defende para o serviço municipal - e dos quais não abdica, a saber:

 

 

Assim, face ao processo de reestruturação da Câmara Municipal de Coimbra agora proposto, há que constatar que sendo um processo de mudança complexo, carece de enorme envolvimento dos trabalhadores, desde o esclarecimento cabal do que para estes está previsto, à auscultação das suas preocupações e receios quanto à mobilidade para outras unidades orgânicas do município, quanto a conteúdos funcionais, locais de trabalho, garantias de direitos face a progressão nas carreiras, etc.

Os trabalhadores não podem ser remetidos a um silêncio que gera naturais receios e preocupações e fomenta toda a diversidade de cenários, mais ou menos imaginários, que ocorrem sempre em circunstâncias desta importância.

Constatamos esta ausência prévia de negociação” com os trabalhadores e as diferentes forças políticas municipais, sendo só agora marcadas reuniões com forças políticas e sindicatos em calendário posterior a esta reunião de câmara.

É fundamental que se fomente o diálogo entre todos os interessados. Porém, e ao invés, o processo de auscultação é remetido para depois da própria deliberação de executivo municipal, o que em nada lhe confere credibilidade.

A reestruturação Orgânica do Município ganhará uma outra densidade se resultar de uma participação alargada de todos os interessados.

Deste modo, perante a proposta apresentada, e porque a questão mais premente se prende com os transportes urbanos de Coimbra, é fundamental que o Presidente de Câmara, o restante executivo, bem como os partidos que suportam a maioria, afiancem clara e inequivocamente que quaisquer alterações na estrutura dos SMUTC garantam:

  1. A prossecução do reforço de um serviço público municipal de transporte urbano de passageiros, afastando qualquer cenário de desmantelamento do serviço ou da sua entrega a interesses externos, nomeadamente através da privatização ou concessão de quaisquer serviços

 

  1. O encetar urgente de um processo de diálogo com os trabalhadores dos SMTUC, com o esclarecimento e auscultação dos trabalhadores e dos seus representantes legais (comissão de trabalhadores e sindicatos), quanto a todas as questões que, com razoabilidade ou por falta de informação, se apresentam relativas à integração em outras unidades orgânicas do município;

 

  1. O cumprimento integral dos direitos dos trabalhadores dos SMTUC, aliás legalmente consagrados.

Sem este claro compromisso público, não poderão os eleitos da CDU viabilizar a proposta de Reestruturação da CMC.

Deste modo, face ao exposto, a CDU propõe que se anule este processo, retirando-o da ordem de trabalhos desta reunião.