No passado dia 24 de fevereiro, teve lugar no auditório do Instituto Justiça e Paz o debate «O PCP os Católicos e a Igreja», organizado pela Organização Regional de Coimbra do PCP. Participaram como oradores Edgar Silva e Sérgio Dias Branco. A moderação ficou a cargo de Manuela Pinto. Esta iniciativa juntou mais do que 50 pessoas e demonstrou a importância deste tema, quer para a discussão interna, quer para a convergência e unidade com os católicos que querem fazer avançar a democracia em Portugal e defender a soberania nacional.
Manuela Pinto lembrou a posição independente e resoluta do PCP sobre a ligação aos trabalhadores crentes, nomeadamente a orientação da «mão estendida aos católicos» definida na década de 1940. Foram ainda destacados os contributos de Álvaro Cunhal em diversas intervenções escritas com o objectivo de aproximar e até atrair católicos ao PCP, como forma de ligarem a participação política às convicções humanistas que professavam como cristãos.
Edgar Silva lembrou o trabalho unitário desenvolvido por comunistas e católicos ao longo da história dos mais de 100 anos do PCP. Referiu ainda que desde os primórdios o PCP contou nas suas fileiras com militantes e dirigentes oriundos de meios católicos. Mais uma vez foram sublinhadas as contribuições clarificadoras de Álvaro Cunhal sobre esta matéria, em particular, a distinção entre os católicos e a hierarquia da Igreja Católica e a caracterização do catolicismo como não sendo uma ideologia. A própria Igreja, desde o «aggiornamento» do Concílio Vaticano Segundo, actualizou a sua posição, inclusive em relação ao socialismo.
Sérgio Dias Branco comentou as relações entre o marxismo e o cristianismo, desmontando alguns preconceitos. Trouxe para a discussão exemplos de cristãos, em particular da chamada «teologia da libertação», que utilizaram o marxismo para analisar as contradições da sociedade capitalista. Assumindo a centralidade da ligação entre a fé e a prática (praxis), decidiram participar na transformação e superação dessa sociedade. O conflito e antagonismo entre classes é o resultado da lógica exploradora do capitalismo de maximização do lucro e da acumulação da riqueza em poucas mãos. É uma «economia que mata», usando a expressão do Papa Francisco.
Embora a questão da incompatibilidade entre a crença religiosa e a colaboração com ou adesão a uma força política como o PCP, que nunca advogou uma posição anti-religiosa, nem devesse ser colocada, a verdade é que essa ideia permanece em maior ou menor grau. É fruto da uma campanha anticomunista, muito dirigida aos católicos durante os tempos do fascismo, que deixou marcas ainda por apagar. Encontros como este promovem a clarificação sobre o tema, chamando a atenção para a longa tradição do «comunismo cristão» com raízes nas primeiras comunidades cristãs. Ao mesmo tempo, procuram o sublinhar o passado de cooperação entre comunistas e católicos e contribuir para um futuro de amizade e acção comum no sentido dos valores de Abril, da soberania, da justiça social, do progresso e da paz.
Vê aqui o debate completo: https://www.youtube.com/watch?v=oxJgWRHc1y8