Fala-se muito da floresta durante o Verão, na denominada época de fogos florestais.
O tema será abordado não só pelos motivos porque é lembrado no Verão, mas pelo que rodeia a floresta, pelo que a desvalorisa, pelo que a põe em perigo.
No distrito de Coimbra a área da floresta é na quase totalidade minifundio, excluindo os Baldios. Os proprietários/produtores, não podendo viver só da floresta, têm de possuir outros meios de rendimento.
A floresta na região é, maioritáriamente, a chamada floresta industrial, que está dividida entre o eucalipto e o pinheiro bravo, existindo ainda com pouco significado povoamentos de castanheiro e de cerejeira brava para produção de madeira.
Quanto ao eucalipto, este está em expansão, quer devido à pressão das celuloses quer ao desejo dos propriatários a quem ardeu o pinhal e que querem a espécie que se regenera. Os eucaliptos depois serão vendidos directamente às empresas ou a intermediários, por preços ditados pela indústria do papel.
No que diz respeito ao pinheiro bravo, são muito raros os proprietários que sabem conduzir uma mata desta espécie. Além disso, o propretário só faz a venda do pinhal, na maioria dos casos, uma vez na vida. Não tem o conhecimento que tem o comprador (madeireiro) que anualmente faz várias compras e tem possibilidade de se aperceber da qualidade e do valor do material lenhoso e que, quase sempre, corta os melhores exemplares, deixando-lhe os piores com pouco ou nenhum valor, abrindo clareiras onde o mato cresce à vontade, sendo mais tarde combustível para os fogos florestais.
A solução será o acompanhamento dos povoamentos de pinheiro bravo das propriedades particulares por técnicos especializados, com o apoio do Estado, dado que as dimensões diminutas das propriedades florestais não dão o rendimento suficiente para pagar o acompanhamento do técnico. A fim de se evitarem as especulações dos compradores, deve ser garantido, aos produtores, um preço justo pela madeira. Esta é a melhor prevenção e preparação da resistência aos fogos florestais.
A comunicação social apresenta os “incêndios” como um espectáculo, procurando convencer os espectadores que são um desastre normal e que têm de acontecer.
Os fogos florestais não são nada de normal. Os fogos florestais acontecem porque não há ordenamento da floresta e porque não existe apoio técnico aos produtores florestais.
O combate ao fogo é feito com meios limtados e frequentemente, com desconhecimento dos melhores métdos de combate.
Os meios aéreos, que deveriam ter controlo público, descarregam toneladas de água que se evapora pelo efeito do fogo. Para aumentar a eficácia dos meios de combate, tanto aéreos como terrestres, deveriam ser utilizados produtos retardandes que retiram oxigénio ao fogo.
Uma das soluções será a criação de novas equipas de Sapadores Florestais, como está legislado, e o reforço das equipas existentes, que na frente do fogo e com a colaboração dos meios aéreos e do produto retardante combaterão o fogo com muito maior eficácia.
No que respeita à Floresta e Ambiente, desde o fim da Direcção Geral das Florestas (DGF) e a inclusão das Matas Nacionais e dos Perimetos Florestais no Instituto da Conservação da Natureza (ICN), as Florestas estão no Ministério do Ambiemte, ficando apenas para o Ministério da Agricultura as florestas privadas onde não tinham qualquer intervenção.
No entanto, está provado que o ICNF/ Ministério do Ambiente não tem conhecimentos para gerir e conduzir Povoamentos Florestais, quer públicos quer privados. Não foi criado com essa vocação, para a condução de povoamentos florestais nem para a sua exploração.
Durante a existência da DGF não ardiam Matas Nacionais nem Perímetros Florestais com a dimensão que actualmente se vê.
A floresta é uma componente da Agricultura Familiar.
O Ordenamento da Floresta e a sua reconversão, abandonando a monocultura do eucalipto e do pinheiro em manchas contínuas, é o caminho para uma floresta de uso múltiplo, baseada em espécies autóctones, solução que o Estado deve apoiar.
Este caminho é mais benéfico para o mundo rural, minimiza os fogos florestais, retém melhor a humidade, trará maiores benefícios ambientais e maior rendimento para os agricultores.
28 Maio 2020
FLORESTA, FOGOS FLORESTAIS E AMBIENTE
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