Agora, a área da Psiquiatria, como se verificou numa reunião recente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) com profissionais deste sector, ficou patente a ideia de que diversos serviços correm sérios riscos de extinção, pondo em causa os serviços prestados aos cidadãos portadores de doença psiquiátrica, que cabe ao Estado proteger, tratar e acompanhar.
DESESTRUTURAR EQUIPAS É DESTRUIR A QUALIDADE DO SERVIÇO
A desestruturação de equipas especializadas e multidisciplinares, construídas e formadas ao longo de anos, é feita sem quaisquer escrúpulos. Não há respeito para com os profissionais. As suas opiniões não são ouvidas ou tidas em conta e estes são tratados como se fossem marionetas. Está a deitar-se fora e a rejeitar o saber e a experiência adquiridos ao longo de anos.
Está em causa a visão multidisciplinar do tratamento da doença mental, que segundo a Organização Mundial de Saúde tem um papel importantíssimo na desinstitucionalização e na integração de cidadãos portadores de doença mental.
O tratamento da toxicodependência, que em Portugal teve uma evolução muito positiva, corre sérios perigos de grave retrocesso.
A ESTRATÉGIA DO GOVERNO É ENGORDAR OS PRIVADOS E DESPROTEGER OS MENOS FAVORECIDOS
Trabalha-se sem qualquer plano estratégico e se ele existe, não é revelado aos profissionais. Procura-se avançar pela via da imposição. Fica-se com a certeza, cada vez mais nítida, que há que destruir o que é público, para que o sector privado engorde à custa dos serviços públicos de saúde.
Ao mesmo tempo que se fala em “devolver” doentes à comunidade, acaba-se com serviços importantes de acompanhamento de doentes, como é o caso, do Hospital de Dia no Hospital Sobral Cid que tem um papel importante na psicoterapia e no treino de competências dos doentes.
Também a promiscuidade entre o sector público e o sector privado é uma realidade, com profissionais do sector público, dos HUC, a incorrerem em incompatibilidades ao desempenhar funções de coordenação e direcção em serviços de saúde, na unidade de saúde privada Ideal Med.
Falam em desinstitucionalização dos doentes quanto se trata dos serviços públicos, e de institucionalização quando se trata de enviar os doentes do Hospital do Lorvão para uma instituição privada em Condeixa. Não é solução empurrar estes doentes para IPSS, instituições de caridade ou outras instituições não estatais.
SÓ O SERVIÇO PÚBLICO GARANTE IGUALDADE DE ACESSO
Os doentes correm sérios riscos de virem a ser deixados à sua sorte, sem comparticipação da medicação, sem dinheiro para os transportes para poderem deslocar-se às consultas, sendo que o mais certo é que o abandono, a rua, talvez o suicídio os espera. As famílias e a comunidade começam a ficar aflitas com o que já está a suceder e com o que aí vem, se tudo isto não for travado e invertido.
Hoje, já é normal que os doentes deixem de aparecer nas consultas, pelos custos dos transportes. Já não se sabe o que se passa com doentes que já tiveram todo um acompanhamento normal, profissional e competente.
É PRECISO OUVIR OS PROFISSIONAIS
Há que pensar soluções com os trabalhadores, com os profissionais, com as famílias.
Há que avaliar o impacto das medidas tomadas e a tomar. Não se pode avançar para o vazio. Onde estão os estudos prévios?
Este é um sector onde são necessários recursos humanos diferenciados e equipas multidisciplinares. Isto não se compadece com cortes e mais cortes no SNS. Só para o sector financeiro, para os bancos e grupos económicos não faltam, diariamente, apoios e financiamentos massivos do Estado.
O PCP está com os profissionais e com as famílias dos cidadãos doentes de psiquiatria, com o SNS e continuará a lutar até que esta política seja definitivamente derrotada.
É PRECISO LUTAR PELO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE